terça-feira, 30 de julho de 2013

Lembrando José Cupertino Ribeiro Jr.(1848-1922)


JÚLIO CORTEZ FERNANDES

Membro do Directório incumbido pelo congresso republicano realizado em Setúbal em 1908 de concretizar a Revolução, Cupertino Ribeiro filiou-se no Partido Republicano Português aos 18 anos. Tornou-se graças ao seu esforço e habilidade para o negócio num rico comerciante industrial e gestor, cuja bolsa esteve sempre aberta para ajudar a causa da República. Nasceu em Pataias, concelho de Alcobaça , e faleceu em Lisboa na sua casa na Rua Braamcamp no dia 11 de janeiro de 1922, data desconhecida, que aqui divulgamos finalmente.

Implantada a República foi eleito deputado à Constituinte, sendo posteriormente Senador. Cupertino Ribeiro, ambicionava ser Ministro das Finanças do  Governo Provisório, tendo sido preterido em favor de Sidónio Paes, conotado com a ala radical e jacobina do Partido Republicano, contrariamente, Cupertino sempre se colocou ao lado dos moderados, tendo aderido ao Partido Unionista de Brito Camacho, em oposição ao PRP, partido que dominou a cena politica nacional a partir de 1910. Cupertino Ribeiro era proprietário da Fabrica de Estamparia e Tinturaria de Rio de Mouro, Sintra. Comprou uma das mais importantes quintas da localidade, a Quinta da Ponte, que remodelou e onde construiu uma ampla moradia, frequentada pela melhor sociedade lisbonense do tempo,a quinta passou a ser conhecida por Quinta do Cupertino. Junto da mesma, e frente à fábrica mandou edificar um bairro para os operários.

Contribuiu com a avultada quantia de 35.000$00 para a construção do cemitério paroquial, iniciativa da junta republicana de 1909-1911, eleita, em parte devido à sua influência. Com as divisões surgidas no seio do movimento republicano depois de 1910, os radicais tomaram conta da junta e Cupertino Ribeiro, desiludido, terá desistido da ideia de mandar construir o seu mausoléu no cemitério da terra que tanto amava.

Vendeu a fábrica, transformada pelo novo dono em local de tratamento de curtumes, actividade causadora de poluição acentuada do rio, e cheiro nauseabundo de que os habitantes se queixavam,nomeadamente os moradores da povoação de Francos situada a jusante da "curtimenta".

O seu funeral realizou-se para o cemitério lisboeta dos Prazeres, sendo a sua urna depositada, no jazigo da família Ferreira Braga, parentes da sua viúva D. Adelaide. Foi acompanhado até a última morada pelos amigos de sempre entre eles: o general Correia Barreto, ministro da Guerra, Inocêncio Camacho, governador do Banco de Portugal, Tomé de Barros Queiroz, Guilherme Graham destacado capitalista,  muitos comerciantes importantes como Ramiro Leão, e também pelo antigo pessoal da fábrica que lhe devotava sincera estima.

Em catorze de Janeiro a Junta de Freguesia de Rio de Mouro reuniu em sessão ordinária, na qual não foi feita qualquer referência ao desaparecimento de Cupertino Ribeiro, a maioria era do PRP, para que não restassem dúvidas que o gesto foi deliberado, o presidente referiu "só se devem tratar dos interesses da freguesia arredando-se de qualquer nota politica", quer dizer nada de falar no falecido. Cupertino Ribeiro, que tanto se orgulhava da vitória da lista republicana nas eleições de 1909 em Rio de Mouro, recebeu no fim aquilo que os políticos desavindos distribuem como ninguém: vil desprezo a quem deviam estar gratos. 

Completou-se o ano passado o 90º aniversário da sua morte, figura de relevo nacional, merecia que o facto se assinalasse, assim este singelo depoimento é um contributo para que a efeméride seja lembrada. 

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