quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Licenciamento e Investimento:mudar de paradigma

CARLOS LOURENÇO FERNANDES

Professor universitário, antigo diretor do Departamento de Urbanismo e do Plano Director Municipal de Sintra


Steve Jobs afirmava em Junho 2011 que “temos a oportunidade de construir o melhor edifício de escritórios do mundo”. A construção do Campus da Apple XXI em Cupertino, S. Francisco, para cerca de 15.000 trabalhadores é um notável projeto de Norman Foster+partners, Prémio Pritzker, em 71 hectares, no coração de Silicon Valley (Califórnia). O complexo constrói-se sob o rigoroso prisma da sustentabilidade: uso de energias renováveis, racionalização do consumo de água, eficiência energética, mobilidade amiga. Isto é, engenharia e arquitetura de ambiente séria e de conhecimento aplicado. 260.000 metros quadrados de área de construção, universo multiuso dedicado à investigação e desenvolvimento, lazer e comunicação. Inauguração em 2016. Uma impossibilidade material manifesta de ocorrer em Portugal face à monstruosidade jurídico-administrativa (e de práticas da Administração pública) em que se tornou o quadro de licenciamento em Portugal e à captura gerada pela barbárie dos ismos. Agora, do ambientalismo (não confundir com a seriedade da engenharia e arquitetura de Ambiente).

O Relatório do Banco Mundial 2013 (dados reportados a junho de 2012 – Doing Business) coloca Portugal em posição vizinha do Chipre, República Checa, Indonésia, Nigéria, Bangladesh, Marrocos em matéria de licenciamento de iniciativas de construção. Portugal é vizinho do Botswana, México, Tunísia, Gana, em matéria de proteção de investidores. O quadro dramático em que se colocou Portugal face a anos sucessivos de elaboração de universo patológico de regimes jurídicos de licenciamento, a persistência de universo datado e ultrapassado de inúmeras servidões administrativas e restrições de “utilidade pública” carentes de legitimidade científica, as práticas sinuosas e difusas da Administração no calvário do licenciamento, impedem Portugal de progredir e construir ambiente favorável ao crescimento e emprego.

O crescimento económico, o emprego, depende do investimento. O investimento depende do licenciamento. As iniciativas de criação de valor, da emergência de fileiras de valor, de criação de riqueza dependem do licenciamento e autorizações. O sistema de gestão territorial, em Portugal, complexo, difuso e incapaz de produzir clareza aos mercados, de informar, com transparência, os investidores, necessita de reforma profunda e de rutura com os paradigmas do passado. O sistema de licenciamento, em Portugal, necessita de agilizar a iniciativa, de confiar na iniciativa, de estimular o crescimento, de assegurar responsabilidade ao investimento, de garantir quadros regulatórios exigentes, normas claras, imparciais, de assegurar níveis crescentes de concorrência e qualidade na concorrência. O mundo move-se. È decisivo inverter o ambiente institucional em Portugal e garantir que, em contexto de globalização competitiva, Portugal será bom destino para o investimento (nacional ou estrangeiro) e que Portugal garante proteção a investidores e agilidade no licenciamento. O crescimento económico não ocorre por desejo invocado. Ocorre com mudanças de rutura no quadro jurídico e nas práticas da Administração. Não há cenário senão este. Reforma com rutura dos paradigmas do passado.

A Apple elaborou com a empresa de consultadoria Keyser Marston Associates um relatório sobre o impacto económico que terá o seu novo Campus para a cidade de Cupertino. O projeto atrairá 7400 novos trabalhadores à cidade, novo impulso económico aos negócios da cidade e, a Apple passaria a pagar 25 a 56,5 milhões de dólares/ano em impostos. A construção do Campus Apple supõe cerca de 10.000 novos empregos durante 3 anos e investirá 66 milhões de dólares em novas dotações infraestruturais. Inaugura-se em 2016. O Mundo move-se onde existe e progride o ambiente institucional favorável ao investimento. E, por ali, progride a alegria, amor à iniciativa, ao empreendedorismo. Por ali, a demografia não é ameaça, a juventude constitui família.

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