sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Queluz-Belas a centralidade que se renova

RUI OLIVEIRA

Tanto Queluz como Belas têm a mesma génese histórica. História antiga, rica e fecunda que denota uma centralidade, ancestral, suportada por características geográficas e geomorfológicas importantes mesmo na atualidade, apesar do seu esbatimento decorrente da imensa malha urbana em que se transformaram estas duas Vilas, agora, novamente irmanadas.

A centralidade ou a ausência desta foi sempre a mola real do desenvolvimento das localidades. O desenvolvimento socioeconómico local é potenciado por vetores muitos diferentes entre si, um deles, por demais importante, tem a sua base de sustentabilidade no poder político, seja pessoal ou coletivo. Aqui reside, afinal, o peso e prestígio da vila de Belas nos finais da Idade Média que nos lega um Palácio Senhorial, onde se vislumbra os traços arquitetónicos que nos remetem para um gótico tardio, que exibe já o que se pode considerar os primeiros esboços do Tardo Gótico Manuelino; neste palácio, afinal, residência dos Duques de Beja e seus filhos, D. Leonor, esposa de D. João II, D. Diogo e D. Manuel, que mais tarde será o Rei Venturoso, D. Manuel I.

Queluz, cuja grafia do topónimo foi mudando ao longo dos séculos (Qeeiluz > Cheiluz > Queelus) era então, somente, um vale aprazível, que se diz que ser O Vale da Amendoeira. O certo, era que integrava o território, desde 1495, do Concelho Senhorial de Belas. O termo de Queluz, nessa época, era recortado por propriedades e casais, na posse de judeus de prestígio como Isac Abravanel, Mafamede Láparo, Mestre Gadelha, Mossem Caçam e outros. Desses tempos antanhos de Queluz, um ponto nevrálgico ressalta do anonimato: Ponte Pedrinha. A Ponte de Pedra, sobre o rio Jamor, importante no Itinerário Régio de D. Manuel I entre Lisboa e Sintra ao ponto de mandar agradecer a João Fogaça, Alvazil da C.M de Lisboa, a prontidão com que mandou reparar a mesma para o Rei se deslocar para Sintra, no ano de 1515.

Novas centralidades se começam a desenhar no século XVII. Queluz ganha supremacia a Belas. Depois de vicissitudes e reequilíbrios de poderes, parte importante das terras do Vale de Queluz passam a integrar a Casa do Infantado. Esta Casa é o alfobre dos futuros Reis de Portugal, o seu palácio reflete este novo centralismo político. Queluz cresce; é um lugar Real. Belas é secundarizada. Mas, ainda assim, está em “graça” real. D. Maria I é amiga pessoal de D. Maria Rita Castelo-Branco, Marquesa de Belas. D. João VI e sua Real Esposa, D. Carlota Joaquina, residem em Queluz, os Infantes passeiam a cavalo toda esta região.

O conturbado século XIX impõe novas centralidades, Belas deixa de ser Concelho senhorial, passa a simples município de curta duração pois em meados do século é despromovido a freguesia e integrado em Sintra. Queluz vê a sua centralidade política transferida para outros lugares: a Pena, na Serra de Sintra, é apenas um deles. Desses tempos de “glorificação” de ambas as vilas fica-nos os palácios, o comboio que partilham ainda na atualidade, através da Estação de Queluz – Belas e um território de grande densidade populacional que pode ser ele em si mesmo o motivo base para uma nova centralidade política e económica, consubstanciada num futuro Concelho Municipal que honre a memória do passado, mas que seja, sobretudo uma porta larga para um futuro promissor. Queluz merece…. Belas também.




Paço de Belas: na primeira foto, pormenor do páteo interior e complexo de arcaria; na segunda, exterior, porta carral e mirante do Séc XVI.

 Palácio Nacional de Queluz, Séc XVIII

Documento pelo qual Manuel I agradece a João Fogaça, Alvazil da C.M de Lisboa, a prontidão com que mandou reparar a Ponte Pedrinha para o Rei se deslocar para Sintra, no ano de 1515.

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