quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O Hospital do Espirito Santo e a Gafaria de Sintra

CARLOS MANIQUE DA SILVA

Duas instituições de caridade marcaram o panorama sintrense desde tempos medievais. Refiro-me ao Hospital do Espírito Santo e à Gafaria de Sintra. No que concerne à primeira instituição, documentos de arquivo atestam a ancestralidade da sua implantação no centro nevrálgico da vila, isto é, na contiguidade do Paço Real. Por outro lado, a Gafaria, diferenciada do Hospital do Espírito Santo (apesar de com ele formar um único organismo ou instituição jurídica), situava-se primitivamente nas imediações do “cabeço do Ramalhão”, mais precisamente, segundo relata Silva Marques (cf. Cartório da Misericórdia e Hospital do Santo Espírito e Gafaria de Sintra, 1940), na atual rua do Fetal, em S. Pedro de Penaferrim. Em finais do século xv, a Gafaria é transferida para uma zona relativamente próxima mas mais a poente (sobranceira à Praça D. Fernando II), onde ainda hoje é possível observar a Capela de S. Lázaro (foto abaixo), remanescente imóvel do complexo aí instalado.


Se é verdade que o Hospital manteve atividade até à década de 1980, a Gafaria, por seu turno, entrou em rápido declínio no decurso do século xvi, à medida que a lepra dava evidentes sinais de retrocesso no nosso país.

A cronologia de acontecimentos que a seguir se apresenta pretende, no essencial, revelar aspetos marcantes da vida das duas instituições; tanto quanto seja possível desde que há memória documental até ao ano de 1545, momento em que são anexadas à Santa Casa da Misericórdia de Sintra, então fundada.



1368 (outubro, 8) – O juiz, vereadores e procurador da vila de Sintra, reunidos no “Chão de Oliva”, em frente do Paço Real, tomam conhecimento de que o rei (D. Fernando) não concorda que os rendimentos do Hospital e Gafaria de Sintra sejam despendidos em outros “negócios do concelho”.



1369 (abril, 22) – O juiz e vereadores reúnem a fim de corrigirem a irregularidade apontada, reconhecendo que o melhor será elegerem um “homem bom de consciência” que seja provedor do Hospital e Gafaria. Para o efeito, nomeiam João Anes, “homem bom e sem cobiça”, residente “à Fonte da Pipa”.



1403 (setembro, 28) – Gonçalo Anes, tabelião, pede escusa do cargo de provedor do Hospital e Gafaria, para o qual havia sido nomeado por ser “homem de boa fama”. O requerimento é indeferido.



1403 (dezembro, 22) – Gonçalo Anes, tabelião e provedor do Hospital e Gafaria, reclama o pagamento de “pão e dinheiros” devidos à instituição pelo Município de Sintra, sob pena de proceder à venda de bens do concelho até ao montante da dívida.



1545 (março, 10) – A rainha D. Catarina, mulher de D. João III, escreve ao juiz, vereadores, procurador e homens bons da vila de Sintra dizendo-lhes, com prévia autorização do rei, que deseja muito que em Sintra haja uma Confraria de Misericórdia.



1545 (julho, 8) – A rainha D. Catarina escreve aos citados destinatários, respondendo à carta em que estes lhe deram conta da formação da “Confraria da Santa Misericórdia”, e agradece-lhes que tudo tenha sido “tão bem feito como eu de vós confiava que havíeis de fazer”.



1545 (setembro, 23) – D. João III, a pedido de sua mulher, resolve anexar o Hospital do Espírito Santo e a Gafaria de Sintra à recém criada Confraria de Misericórdia.

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