terça-feira, 11 de março de 2014

Novo texto de Bárbara Rodhner

BÁRBARA RODHNER



Sentada no sofá vejo ondas que invadem praias, engolem bares.

Sinceramente? Não sinto nada. Parece-me tudo tão previsível como o viver dentro da boca-vulva de um vulcão e chorar a sua erupção.

Qual é o risco de amar uma mulher bonita? O mesmo que se paga por habitar, domar, os locais mais invejados.

O Homem chora, eu não.

Frigida! - acusei-me.

Olho para o chão e vejo uma pequena sombra; Filho de peixe sabe nadar. Fugiu-me uma cria... Está parada, paralisada, encostada à parede fria.

- Mãe ... Vamos todos morrer?

A cara branca, os olhos de cão , a faca que me rasga. Afinal estou viva. Revejo naquela expressão-rija-tensa todo o pânico que senti no dia em que descobri que não somos imortais.

Não fui capaz de mentir.

- Sim; Vamos todos morrer.

- Quando?

- Não sei.

- podemos ir juntos ? ...

...

A mulher é este vale-montanha, com o seu lado lunar, azul corvo, metálico, frio, e o seu lado solar, quente, árido, amarelo inflamado, encarnado.

Chorei.

Perco-me no meu pensamento.

Regresso.

- Mãe , quando ?!

Traumatizei o meu filho mas não sou capaz de mentir. Mentir é adiar a verdade que virá naturalmente ao de cima como o mar engole a terra.

- Quando chegar o nosso dia.

Ele suspira. Eu também. Damos um abraço com apenas uma certeza:

Somos mortais; vivemos enquanto temos oportunidade.

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