quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A Viagem

EURICO LEOTE


Iniciei a viagem com rumo definido se é que tal afirmação me é permitida considerando que tudo é relativo dependendo do factor tempo, do momento, do lugar, do olhar e de quem observa. Tudo é mutável e se altera a cada instante. O planeta terra está em permanente movimento de rotação e translação. A crusta terrestre pulsa a cada momento que passa. O que parece não é, e o que é já foi. A pedra que rola, o monte que sobe, a placa que se ajusta, a planta que brota e cresce, definha e morre. Nada é imutável, tudo se move e transforma. É assim uma das leis da vida. Como tantas outras que nos regem e governam. O homem que se considera o Senhor do Universo mais não é que o governador das coisas terrenas e explorador de outros homens e animais, e destruidor do próprio planeta em que habita.

No fundo somos dependentes e comandados pelo sol e pela lua, os quais com a sua força gravitacional, fases e poder energético e calorífico vão condicionando e definindo a vida dos homens. Se a estes elementos juntarmos os naturais chuva e vento, fenómenos vulcânicos e outros, encontramos as leis que nos regem, que por ventura estiveram na causa do desaparecimento de outras espécies animais e vegetais, e quiçá serão no futuro os causadores do fim de toda a humanidade. Infelizmente o ser humano com a sua atitude e comportamentos tem vindo a acelerar todo este ciclo e evoluir, contribuindo para a rápida deterioração e destruição da sua casa.

Acabei por não iniciar viagem alguma. Após reflectir um pouco sobre tudo isto, sobre o que à nossa volta está a acontecer, aquecimento global, diminuição das calotes polares, poluição, combustíveis fósseis, ciclo do carbono, pegada ecológica e outros fenómenos similares, decidi ficar por cá e neste ano fazer férias cá dentro. Alterar alguns hábitos, conhecer melhor o meio, virar-me para os passeios pedestres, pôr em dia as leituras e escrita, e já agora e porque não proceder a algumas arrumações em casa e na garagem. É impensável a quantidade de coisas e de lixo que vamos gradualmente e ao longo dos tempos acumulando em casa e em especial na arrecadação lixeira que é a garagem. Por outro lado é igualmente interessante o que se descobre cuja existência se desconhecia ou ignorava, só pelo facto de se encontrar fora da nossa vista e alcance, provavelmente porque fora dos nossos hábitos e consumos. Vim a encontrar livros repetidos, autores desconhecidos, livros autografados e personalizados cujo paradeiro há muito ignorava.

A paragem ou melhor a não saída para fora em busca de novas e desconhecidas paragens, levou–me a adquirir outros hábitos porventura mais salutares, como os passeios pela manhã antes da acção solar mais irradiante e ainda pelo fina da tarde quando o dia caminhava para o crepúsculo. Passeios refrescantes e revigorantes em locais acessíveis e bonitos, alguns dos quais ainda do meu desconhecimento apesar de se encontrarem muito perto.

Fiz novas amizades, retemperei energias para as novas tarefas que me esperavam após a recompensadora e merecida paragem.

Torna-se óbvio que um simples acto e gesto isolado em torno de questão tão complexa e importante que tenho vindo a relatar, significa zero no que toca ao esforço de alterar e inverter todo um estado de coisa. Contudo, no fundamental senti-me bem comigo e eu próprio passei a sentir-me melhor.






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