segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Um poema de Gonçalo Moleiro

GONÇALO MOLEIRO









O comboio aproxima-se de Lisboa
Transportando apenas o meu corpo.
Os sonhos vão saindo a cada estação
Agarrando-se às casas, aos jardins 
e a cada vida que enriquece a cidade.
Já não sei de mim ao chegar
Nem sei se soube quando parti.
Da janela vejo o homem que trata a horta
Um pedaço de terra entre prédios disformes
E admiro a sinceridade na criação do espaço
E o carinho com que a enxada afasta a terra.
Aqui, perto do destino, nenhum deles dá sinais de existir.
Apenas o meu corpo
Devidamente decorado, como mandam os dias de hoje,
Longe da alma que viajou até outro lugar.

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