quinta-feira, 26 de março de 2015

Palavra de Rei


ANTÓNIO LUÍS LOPES
Diálogo imaginário entre D.Fernando II e um nobre:

- Estou a pensar fazer um palácio soberbo no cimo da Serra de Sintra... Adquiri o velho convento ali existente, a cerca que o envolve, assim como o Castelo dos Mouros e as quintas e matas em redor...

- Vossa Majestade não sabe em que apuros se vai envolver...

- Porquê? O ar é puro, a vista magnífica, o arvoredo soberbo... Aquela Serra é mágica e o palácio que pretendo erguer será um cântico em pedra, uma oração à eternidade, um vislumbre do Paraíso...

- Vossa Majestade é um visionário mas dou-lhe por garantido que irá encontrar mais escolhos do que mar chão, até que tal obra se conclua. Até parece que já estou a ver: o Grupo de Amigos da Serra irá colocar em causa o transporte de materiais e o gigantismo da obra, as árvores a derrubar, a vozearia dos operários, o espezinhar dos caminhos, quiçá o calcar de vestígios arqueológicos ainda por estudar e recuperar... A Associação de Benfeitores do Monte da Lua irá certamente questionar Vossa Majestade pela alteração do perfil da paisagem, pela nova edificação que alterará a vista do cume de tão soberba serrania e que impossibilitará a plena visão das nuvens em determinadas épocas do ano... A Liga de Proteção das Aves fará sessões invetivando contra a destruição do habitat natural da carriça e do chapim real... A Confraria dos Devotos de Nossa Senhora da Pena irá questionar a destruição da capelinha, ainda que a mesma esteja em ruínas já bem antes de 1755, mas Vossa Majestade sabe bem que a polémica, em Sintra, anda sempre de mão dada com o início de qualquer obra... O povo interrogar-se-á pelos gastos da Coroa e em tudo verá grossa despesa sem necessidade, com tanto palácio que já por aí há... Como vê, Vossa Majestade, vai meter-se numa carga de trabalhos...
- Entendo, velho e fiel amigo, são sábias e corretas as tuas palavras...

 Mas, no final, será tão magnífica a obra que suplantará qualquer dúvida ou objeção. Palavra de Rei!...

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