quarta-feira, 10 de maio de 2017

A Informática



EURICO LEOTE
Eu gosto muito da informática. A informática é muito bonita. Eu nunca fui à informática.

Abro assim de forma jocosa e à laia de redacção naife, esta ligeira observação sobre a complexidade da informática.

A informática é com efeito um óptimo instrumento que nos poupa imenso tempo e trabalho, e reduz as tarefas a executar, quando funciona, e que ao mesmo tempo e no minuto seguinte nos põe os cabelos em pé, ou nos põe a uivar de raiva, quando pretendemos aceder a um determinado ficheiro, e o mesmo se recusa a abrir, ou reporta mensagem de erro, ou leva uma eternidade a abrir, após a máquina se ter desligado várias vezes.

Mas só assim se comporta e reage, quem efectivamente desconhece a verdadeira génese e complexidade da máquina. Os vários circuitos, funções e tarefas que a mesma executa em permanente e incansável trabalho, quando tempo é o que não temos, e que mais falta nos faz.

Quando carregamos no botão que irá ligar e fazer arrancar a máquina, não fazemos uma pálida ideia das tarefas que ela inicia, dos ficheiros que ela carrega, das portas e periféricos que ela reconhece, dos controladores que ele instala, das rotinas que ele corre, dos programas que instala, no sentido de nos permitir executar as tarefas pretendidas com a maior celeridade e segurança possíveis, ou que os seus componentes físicos o permitem, como será o caso da velocidade do processador, da capacidade de trabalho e velocidade das memórias, da velocidade de leitura e arrumação do disco rígido, ou de tantos outros elementos que a constituem, incluindo os sistemas de arrefecimento, os quais podem levar ao encerramento da máquina, em caso de sobreaquecimento.

Grave mesmo é quando algo danifica o disco – um pico de corrente por exemplo – disco esse que contêm toda a informação necessária e religiosamente guardada numa pasta, por vezes até protegida por uma palavra de código.

E o que dizer quando se perdeu a palavra de acesso que nos permite entrar na máquina, ou mesmo na pasta desejada?

E como nos sentirmos seguros e livres da enorme panóplia de vírus e similares, troianos, warms, phishing e spywears?

Mas afinal é ou não suposto ser a informática uma ferramenta útil e ao dispor do cidadão para o ajudar nas múltiplas e complexas tarefas que pretende executar?

As actuais ameaças e riscos vindos dos mais variados lugares e entidades constituem uma realidade com a qual teremos de continuar a viver, sendo necessário para o efeito, utilizarmos as maiores cautelas e precauções, quer utilizando sistemas de defesa mais eficazes, firewall e antivírus, quer prevenindo os nossos ficheiros e pastas através das cópias e backups de segurança, guardando-os em outros suportes físicos como um disco externo, uma pen, ou efectuando uma gravação em CD ou mesmo DVD.

Problemas e avarias, todos estamos sujeitos a elas, e só aplicando a prevenção sistemática será possível minimizar os danos causados e vencer este acérrimo combate desigual. Desigual porque oculto. Desigual porque traiçoeiro, disparado dos mais variados lugares e com múltiplas formas, com um objectivo, o de incomodar, destruir, roubar informação, em suma, prejudicar o utilizador que é aquilo que todos nós somos com maior ou menor grau de formação e de conhecimentos.

É por tudo isto que eu gostava muito de ir à informática.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Colaboração com o Sintra Deambulada


O Sintra Deambulada é um blogue de divulgação cultural coordenado pela Alagamares-Associação Cultural que se pauta por dois critérios: pluralismo e defesa de Sintra, seja porque os temas que acolhe são de Sintra, seja porque os seus colaboradores são de Sintra ou cá residem.
Estamos abertos à divulgação dos vossos conteúdos, regulares ou não, que versem temas como literatura, história, memorialismo, cartoon, fotografia, poesia, ensaio, etc, bastando que nos enviem os textos ou conteúdos com pedido de publicação e, se for a primeira vez, pequena nota biográfica de 3 a 4 linhas e foto a usar na identificação do post. Pode sair no mesmo dia ou nos dias seguintes.
Este é um espaço de Liberdade. Usem-no!
Será recusado todo o contributo que verse política partidária, sobre clubes de futebol, religião ou difamatória de pessoas ou instituições.
Envio de contributos para alagamaressintra@gmail.com. Informações por essa via ou 924203824.
SINTRA DEAMBULADA

A tragédia nunca contada da Penha Longa


JORGE LEÃO

Quando se fala de Sintra e do terramoto de 1755, até agora, tem-se contado principalmente a tragédia da Vila Velha, da Igreja e da freguesia de São Martinho.
De facto, regista-se apenas uma morte na freguesia de Santa Maria, em Coutinho Afonso. Nenhuma morte na freguesia de São Miguel, assim como também nenhuma na freguesia de São Pedro de Penaferrim.
Na freguesia de São Martinho, registaram-se, segundo o Livro de Registo de  Óbitos, 43 mortes.
«Desses quarenta e três mortos, trinta e seis morreram na villa, incluindo o Rev. Prior, D. Raymundo de Miranda Henriques, que néssa ocasião estava celebrando o Santo Sacrifício da Missa; dois morreram no logar da Varzea; dois no logar de Cabris; dois no Casal da Granja de Baixo, e um no Carrascal, logares da freguesia de S. Martinho»(1).
José Alfredo da Costa Azevedo, sempre muito rigoroso, conta as 43 mortes anunciadas no livro. No livro conta 35 nomes. Encontra mais 5 numa acta da «Irmandade de Santo André e Almas». Faz 40. Dos 43, faltam-lhe 3 nomes que diz não conseguir encontrar. Um deles deverá ser o de Anna Joaquina Quintela, cujo óbito está registado no Livro de Óbitos de São Pedro de Penaferrim, mas que faleceu, segundo se lê, «nos palacios da Villa de Cintra».
Uma coisa, no entanto, é muito estranha e começou logo a ser notada pelo nosso saudoso historiador. O Revº António de Sousa Seixas, prior da freguesia de São Pedro de Penaferrim e redactor da Memória Paroquial de 1758 da dita freguesia, não faz qualquer referência aos danos sofridos pelo Mosteiro da Penha Longa.
Não sabia o nosso mestre que o padre Sousa Seixas , além de não referir esses danos, entre os quais está a ruína da igreja, não refere a morte de vinte e três pessoas que lá se encontravam. E isto é bastante estranho para quem escreve somente três anos após o acontecimento. Porquê? Não sabemos.
Então, na historiografia até hoje produzida sobre a Penha Longa ou sobre o terramoto de 1755 em Sintra, tem-se avaliado a ruína da Igreja da Penha Longa somente por uma fonte documental(2).Diz-nos o documento que dois anos e pouco mais tarde, em Maio de 1758, não se pode sepultar o cónego Gaspar Leitão de Figueiredo na Igreja da Penha Longa, como ele tinha pedido, por esta estar ainda entulhada devido ao terramoto.Documentalmente, só por isto.
Porém, tem estado escondido, por estar registado de forma um tanto anacrónica, um documento interessantíssimo, que nos dá uma informação mais precisa do que aconteceu nesse fatídico dia em Sintra.
Às nove horas e três quartos desse dia primeiro de Novembro de 1755, faleceram, num só acto, 23 pessoas no desmoronamento da Igreja da Penha Longa. 20 mulheres e 3 homens. 10 da Ribeira da Penha Longa, 10 do Linhó e 3 da Beloura.
Por o documento ser muito curioso, muito interessante, e inédito na historiografia de Sintra, fica aqui a sua transcrição(3).
 
 
«Aos dois dias do mês de Dezembro de mil setecentos e cinquenta e cinco chegou a esta Igreja ( São Pedro de Penaferrim) a certeza de terem falecido no conflito do primeiro dia do mês de Novembro da dita era na ruína da Igreja do Convento da Penha Longa as pessoas seguintes:
Manoel Rodrigues, Manoel Rodrigues o velho, Francisca Maria, viúva, e suas filhas Luiza e Joana, Maria Quitéria, filha de Aurélio Pedroso, Luiza Maria e sua filha Violante, Maria da Encarnação, viúva de João da Silva, Felícia Teresa da Silva, todos moradores no lugar da Ribeira da Penha Longa desta freguesia; Maria Michaela casada com Matias da Silva e suas duas filhas Antónia e Romária(?), Antónia e Francisca, filhas de Manoel Jorge, já defunto e de Domingas Francisca, Mónica(?)Maria, viúva, Maria dos Santos, casada com José Gomes e sua filha Maria, Anna, filha de Estevão da Silva e Barbara Teresa, todos moradores em o lugar do Linhó desta freguesia; Manoel Francisco, casado com Agostinha Maria, Anna e Maria, filhas de António Francisco e de Antónia Maria, todos moradores em o lugar do Linhó, digo de Beloura desta freguesia.
Por ser verdade fiz este assento...
O cura João Ribeiro de Azevedo »
 
Assim, refazendo as contas, morreram, pelo que se sabe, 67 pessoas no terramoto de 1755 em Sintra: 43 na Freguesia de São Martinho, 23 na freguesia de São Pedro de Penaferrim e 1 na freguesia de Santa Maria.
 
1-Livro de Registo de Óbitos da paróquia de São Martinho, 1 de Novembro de 1755.
2- Livro manuscrito existente no Arquivo Histórico de Sintra com o título: «Livro em q vão lancados os Religiosos defutos deste Mostº de Pehalõga, dias de seus falecimentos, Patrias, Virtudes morais de cada hum e nº das sepulturas em q forão sepultados – 1702». Foi referido primeiramente por Tude Martins de Sousa no seu livro Mosteiro e Quinta da Penha Longa na Serra de Sintra (Lisboa, 1951) e mais tarde por José Alfredo da Costa Azevedo em O Terramoto de 1755, Memórias do Tempo (Sintra, 1998).
3- Livro de Registo de Óbitos da paróquia de São Pedro de Penaferrim, 2 de Dezembro de 1755.
 
 
Artigo publicado no Jornal de Sintra de 21 de Abril de 2017